Loading - amor e resiliência dos primeiros criadores de jogos brasileiros

Loading: Nossos Primeiros Jogos de Computador é a segunda produção dos inseparáveis amigos e pesquisadores Marcus Garrett e Carlos Biguetti, dois apaixonados pela nostalgia e suas memórias afetivas. Em 2017 Marcus, juntamente com Artur Palma, lançaram o importante trabalho intitulado 1983, o Ano dos Videogames no Brasil, baseado na obra documentária de Garrett em anos de pesquisa sobre o surgimentos dos videogames no Brasil.

Esse movimento audiovisual produzido pela dupla inspirou diversos e desconectados pesquisadores, colecionadores e guardiões da história dos games a trocarem informações valorosas para um país que não costuma guardar a sua história como deveria. Foi assim com o Museu Nacional, por exemplo, tragédia irreparável que já foi esquecida pelo brasileiro, que é mal acostumado a lembrar do seu passado. Acontece até hoje, quando livrarias são fechadas deixando cada vez menos pessoas interessadas em ler, pesquisar e descobrir no passado respostas para o futuro.

Contudo, Loading é resistência. O documentário subverte sua própria significação, pois adiciona uma narrativa ficcional onde um “viajante do tempo” revisita fatos e pessoas dos anos 80, procurando descobrir como eram os primeiros jogos de computador. Não se preocupe pois não aparece nenhum Dr. Brown do De Volta Para o Futuro, muito menos um Dr. Who cruzando multiversos. A presença do viajante, interpretado pelo próprio Marcus Garrett, é sutil e imperceptível.

O roteiro do filme também conta com a participação de colecionadores, amigos e seus familiares, que remontam cenários dos anos 80, com montagens de computação gráfica recriando noticiários da época. Tudo bem que a atuação dos nossos artistas não é das melhores, mas isso não está em questão. Afinal, é um presente da comunidade para ela mesma: se reconhecer ali, nos anos 80, onde tivemos contato com os primeiros computadores pessoais produzidos no Brasil.

Historicamente o filme é impecável, detalhado e completo de informações que para os pesquisadores é um atestado da grandiosidade e luta de profissionais que construíram parte da indústria brasileira dos games. Muitas valiosas entrevistas e um material muito grande estão no pacote, composto de um disco com o filme e um outro repleto de extras. Inclusive, muitas informações apresentadas na produção conferem com a base histórica estudada pelo Bojogá e publicado neste artigo que apresenta o surgimento dos jogos para computador no Brasil e no Ceará.

O filme conta como os jogos de computador brasileiros foram desenvolvidos, em um movimento espontâneo e instigante. Também fala dos primeiros desenvolvedores, as revistas que uniram programadores de jogos, os comerciantes e consumidores, as listas de jogos para escolher e a influência dos jogos de computador para jovens que hoje são professores, pais de família e gestores de empresas. O filme termina falando de um novo tempo, com o fim da reserva de mercado, o que mudaria a forma de programar os jogos com computadores como o MSX, por exemplo.

Loading tem suas limitações, como toda produção de baixo custo. Menos ousado do que o primeiro filme, conduz sua narrativa para um registro concentrado nas regiões Sul e Sudeste do país, onde a principal produção intelectual se dava pela construção de jogos por hobistas e um comércio mais amplo em lojas que vendiam nacionalmente cópias dos jogos. Felizmente, esse movimento também se deu também no Nordeste, notadamente no estado do Ceará. Graças aos estudos do Instituto Bojogá, identificou-se também os primeiros desenvolvedores cearenses, que podem ser conhecidos neste artigo. Longe de ser uma crítica, Loading primeiro confirma os fatos e o apresenta da forma mais grandiosa possível: um filme. Ele também nos inspira a continuar pesquisando, construindo juntos a história dos games no Brasil, conferindo cada movimento, data, documento e imagem. É impressionante que trabalhos como o de Garrett e Bighetti mostrem com tanto amor e dedicação uma história que também deve ter existido em diversos cantos do Brasil.

O Instituto Bojogá quer agradecer especialmente a Marcus Garrett e Carlos Biguetti, em nome de toda a equipe de produção do filme, não somente pela referência, mas por todas as trocas históricas. Obrigado pelo tempo investido em tão rico material, e principalmente, a fazer com que pessoas inovadoras pudessem ver o quanto conseguiram gerar impacto em tantas gerações que hoje jogam em computadores.

E para você pedir sua cópia do filme, entre no link abaixo: