A Tectoy era uma empresa novata, com recente sucesso de vendas com a pistola Zillion. Mesmo vendo o grande sucesso da geração anterior, a empresa ainda não entendia direito como funcionava o mercado de videogames, mas isso não os impediu de tentar e apostar nisso. Aproveitando a ausência do seu rival, o Master System teve a oportunidade de mostrar para o mercado nacional, que mesmo não sofrendo o mesmo efeito do Crash como nos Estados Unidos, os videogames ainda mereciam um espaço no coração e nos lares das pessoas.

Histórico

A Parceria da Sega com a Tectoy se deu início em 1988 com um brinquedo, a pistola Zillion, de uma animação japonesa que ia ao ar durante a semana no horário nobre na TV Gazeta e aos domingos na Rede Globo. Devido ao alcance, as vendas do brinquedo foram mais bem-sucedidas do que no próprio país de origem da animação.

Com o baixo sucesso no Japão, enfrentando uma dominante Nintendo no mercado, a Sega tentou investir nos Estados Unidos, que também já havia sido dominado pela concorrência. A empresa vendeu os direitos os direitos de distribuição para a Tonka, uma empresa de brinquedos, e a associação de videogame com brinquedo não foram muito favoráveis para o desempenho do aparelho em território americano. A Tonka só conseguiu fazer o console penetrar em apenas 1,9 milhões de lares.

Com a campanha mais que positiva da Tectoy com a pistola Zillion, a empresa seria uma forte candidata a adquirir os direitos de distribuição, mas um contratempo dificultou o processo: A Gradiente. Depois de ter feito magia com o Atari, a empresa estava novamente de olho em outra oportunidade de negócio. Segundo o presidente do conselho da Tectoy em entrevista, o que pesou para os japoneses foi o fato do Master System virar um produto secundário para a empresa, já que o foco da Gradiente era aparelhagem de som, enquanto a Tectoy estava querendo estruturar uma empresa para acolher o produto.

Lançado no Brasil no dia 4 de setembro de 1989, quatro anos após seu lançamento no Japão. Com uma campanha de marketing agressiva e com investimento de 2 milhões de dólares, o aparelho vinha para mostrar ao consumidor um videogame com máximo de interação disponível, acompanhado de acessórios como a pistola Light Phaser, óculos 3D além dos controles. Apesar do preço um pouco salgado no lançamento, 1500 cruzados novos (aproximadamente 2800 reais), o Master System foi um sucesso de vendas, resultando em um faturamento de sessenta e seis milhões de dólares, sendo metade dele somente de consoles, a empresa.

O aparelho repercutiu por muito tempo, mesmo após 20 anos do seu lançamento, onde a representante oficial da Sega no Brasil lançou a versão Evolution Blue do console, com 132 jogos na memória. Desde seu lançamento até a chegada do seu sucessor, Mega Drive, se passaram apenas pouco mais de um ano, tendo seu lançamento em dezembro de 1990. Vale ressaltar que o Master System é considerado por muitos, o aparelho que “abriu as portas para o mercado”, devido aos lançamentos ocorrerem anos após a existência do produto no mercado exterior. Após isso, os atrasos diminuíram e Brasil pode acompanhar os lançamentos.

O Console

O Master System brasileiro, é a versão do Master System internacional, o nipônico, foi lançado com o nome de Sega Mark III e sua cor era predominantemente branco. A versão internacional lançada com o nome de Master System, foi lançada no Japão em 18 de outubro de 1987. O console possuí uma CPU Zilog Z80 8-bit 3 579 545, com chip gráfico modificado da Sega baseado no modelo Texas Instruments TMS9918/9928. Com a ROM 384, os jogos tinham acesso a toda a área do cartucho, memória RAM de 8KB e RAM de vídeo de 16KB. Possui também 32 cores simultâneas de 64 disponíveis a uma resolução de tela de 256×192, e três geradores de som quadrados e um de ruído branco.

O Aparelho possuí design futurista, com a predominância da cor preta com detalhes vermelhos. Os botões de Reset e Pause se encontram em baixo da entrada do cartucho que se localiza na parte superior direita do aparelho, já o indicador de “ligado” fica abaixo do botão Reset.  Nas extremidades na frente do console, se encontram o botão de Power do lado direto, ao meio, duas entradas para joysticks e ao lado, um adaptador 3D. Nas extremidades traseiras se localizam: entradas de áudio, entrada de vídeo, seletor de canal CH3-CH4, TV e AC-adaptador. O Controle possuí uma forma retangular, com os botões direcionais do lado esquerdo e dois botões: o primeiro de start e o segundo de reset. Na versão brasileira, o nome da Tectoy se encontra no meio ao invés de Sega.

O console possui ainda dois periféricos. A Pistola Light Phaser lançada a um preço de 180,00 cruzados novos, foi imperada na pistola da animação japonesa Zillion, criada em resposta a Pistola Zapper do NES. Inicialmente, a pistola não foi muito bem aproveitada, mas a Sega soube explorar a pistola posteriormente com jogo como Gangster Town, Rescue Mission e Rambo 3.

O outro periférico eram os Óculos 3D SegaScope, custando na época de lançamento, 500,00 cruzados novos. Uma inovação tecnológica para o Master System, os óculos, utilizavam a própria forma funcional das TVs da época. Como as televisões entrelaçavam as linhas pares e ímpares alternadamente, eles só precisavam sincronizar os óculos com esses intervalos para enviar imagens levemente diferentes para cada olho, criando um efeito de profundidade 3D. Este periférico ainda podia ser combinado junto com a pistola para se jogar Missile Defense 3-D.

Ao comprar um Master System na caixa vinham: um console, dois joysticks, um acoplador de vídeo, um adaptador AC, um cabo RF, um manual de instruções e um manual de instruções dos jogos. Os periféricos eram adquiridos separadamente.

Master System II

O Master System II é uma versão mais compacta do primeiro Master System lançado no Brasil, com apenas um controle, uma caixa menor, sem cabo de A/V e foi lançado de forma independente pela Tec Toy em abril de 1991. Em termos de design é idêntico ao original, mas com os pequenos cortes seu preço foi reduzido (70 mil cruzeiros na época).

A grande alteração deste modelo foi a inclusão do mais famoso jogo da plataforma: Alex Kidd in Miracle World. Para muitas crianças brasileiras da época, foi o primeiro contato com videogames, por ser mais acessível e estar dentro da febre do videogame do início dos anos 90, consumada pela grande adoção dos games na cultura pop brasileira, graças aos consoles de primeira e segunda geração brasileiros, e a emergente proliferação de clones do Nintendo 8 bits.

Na caixa, são apresentados os acessórios que podem ser adquiridos separadamente, como controle adicional, pistola Light Phaser e óculos 3D. Por dentro, o mesmo tipo de isopor e tampa de proteção para o aparelho. Uma versão de 1992 do Master System II vinha com o jogos Jogos de Verão, que virou febre no Brasil.

Galeria

Jogos

Quando lançado o Master System, era acompanhado de dois jogos, e até o final de 1989, já haviam 32 cartuchos disponíveis, onde o valor era de até 240 cruzados novos. A Tectoy também investiu em jogos exclusivos brasileiros, como Férias Frustradas do Pica-Pau.  Também foram lançados alguns jogos adaptados, Mônica no Castelo do Dragão foi baseado em Wonder Boy in Monster Land e Chapolim x Drácula – Um Duelo Assustador foi uma versão de Ghost House. Graças a isso, somente no Brasil existia uma versão de Street Fighter II para Master System, que se tornou o jogo mais pesado do sistema, sendo um jogo raríssimo entre colecionadores.

Alex Kidd in Miracle World, Super Futebol (Great Soccer), Double Dragan, Mônica no Castelo do dragão e Jogos de Verão ( California Games ) foram os jogos mais vendidos do aparelho, apesar do sucesso do Alex Kidd por aqui, foi Castle of Illusion com o Mickey Mouse o jogo mais vendido no Brasil. Este jogo chegou aqui em abril de 1991 e era de plataforma side-scroling, teve sua versão lançada para Mega Drive e suas sequências, Land of Illusion Starring Mickey Mouse e Legend of Illusion Starring Mickey Mouse.

Mercado

Quando chegou ao Brasil, o Nintendinho ainda não havia chegado oficialmente por aqui, o que podia se encontrar no mercado eram alguns sobreviventes da geração passada e vários clones do seu grande concorrente. Aproveitando a oportunidade do momento, a Tectoy inundou o cenário com várias propagandas em diversos tipos de mídias diferentes. O efeito da campanha foi muito além do que a meta de estimada para 8 milhões de dólares como retorno, a empresa cresceu 725% somente no primeiro ano de vendas do console, entregando 85 mil unidades O mercado recebeu muito bem o Master System que no começo dos anos 90, já possuís dominado 80% do mercado nacional. Isso gerou uma expectativa de que nos três anos seguintes, o país pudesse absorver a tão esperada marca de 1 milhão de consoles da nova geração. De acordo Stefano Arnhold, que na época era diretor de marketing da Tectoy, o espaço no mercado não era fácil de ser conquistado, e que o crescimento das vendas se deve a boa escolha dos produtos que agradaram as crianças e despertava interesse nos adultos, mas que não seria possível manter o ritmo de expansão nos próximos anos.

Um fator positivo para o console foi a adaptação de alguns jogos, como California Games que aqui virou Jogos de Verão. Outros títulos tiveram personagens trocados, ou até cenários inteiros, como no Caso do jogo da Mônica, e Phantasy Star foi totalmente traduzido para melhor aceitação do público. Uma alternativa para estender a participação do aparelho no mercado, foi a conversão de jogos do Game Gear (Videogame portátil da Sega) para o Master System, como Sonic Blast.

O Console teve mudança em seu perfil de público conforme novas gerações entrando no mercado, o que levou a Tectoy a fazer reajustes no preço a favor de ser mais acessível. Em 2012, juntamente com o Mega Drive, haviam vendido 150 mil unidades por ano, o que manteve a liderança de vendas no Brasil por marca, com cerca de 5 milhões de consoles distribuídos pelo país, o que manteve o aparelho ainda sendo fabricado vinte anos após seu lançamento.

Curiosidades

• A Sega chagou a lançar alguns jogos em formato de cartão, conectáveis na entrada para os Óculos 3D, mas infelizmente, só funcionavam no Master System I e II, pois a versão compacta não possuía a entrada.
• Uma das medidas tomadas para divulgação do aparelho, de Segunda a sexta-feira, durante os comercias da Seção Aventura, na Rede Globo, eram exibidas as “Master Dicas”, onde o jovem Rodrigo Faro apresentava dicas de jogos do Master System.
• A Tectoy disponibilizou uma linha para que os jogadores pudessem entrar em contato com a empresa e tirar dúvidas, ajudar os jogadores a vencer desafios e passar de faze.
• O Console também foi um dos primeiros a permitir que seus jogos fossem usados em plataformas futuras, através de adaptadores para Mega Drive e Game Gear.
• A primeira mascote da Sega foi Alex Kidd, do jogo Alex Kidd in Miracle World, um dos principais títulos do Master System.
• O Master Club foi criado pela Tec Toy nos anos 90. Certamente fazia parte da estratégia da Tec Toy para competir com os consoles importados e com os clones de Nintendinho. Quem adquiria um Master System da Tec Toy recebia um cartão de resposta comercial que poderia ser preenchido e enviado para passar a fazer parte do clube. Participantes do Master Club recebiam um jornalzinho com dicas de jogos, lançamentos, livro de recordes, etc. Provavelmente haviam outras vantagens que já não me recordo mais.

Ficha Técnica

Geração: Terceira
Fabricante: TecToy
Lançamento: 4 de setembro de 1989
CPU:  Zilog Z-80 8-bit 3 579 545 Hz (3.58 MHz) em PAL/SECAM e NTSC
Mídia: Cartucho e cartão

Referências

Wikipédia

Master System – Manual de instruções.

Jornal O Estado de S.Paulo – 13 de setembro de 1989

Jornal O Estado de S.Paulo – 20 de dezembro de 1989

Techtudo

História do Master System – UOL

5 jogos mais vendidos do Master System no Brasil- redbull.com.br

Atualiazado em 01/01/2021 por Daniel Gularte