Sumário
Comemoramos 30 anos de Alex Kidd in Miracle World, o primeiro jogo de plataforma da SEGA para o Master System voltado exclusivamente para competir diretamente com Super Mario Bros. do NES, que havia tomado às lojas americanas em 1985. E nunca foi revelado o motivo real deste jogo não ter sido, nem de longe, um rival à altura de seu concorrente, desencadeando assim, o início de uma guerra de franquias, talvez a mais acirrada de toda a história dos jogos eletrônicos.
Em mais um bombástico artigo para o Retro Túnel, embarque na história de Alex Kidd e sua intrigante trajetória no mundo dos jogos eletrônicos.
O surgimento de um pseudo-ícone
Alex Kidd foi protagonista de uma série de games da SEGA entre o final dos anos 80 e início dos anos 90. O personagem e seus jogos (como Alex Kidd in Miracle World, o jogo contido na memória do Master System II e III em suas versões brasileiras) tiveram um curto período de tempo para se popularizar. Não por causa do game em si, mas da incrível onda de jogos estilo plataforma, derivados do sucesso de Super Mario Bros para o NES e dos incontáveis jogos da terceira geração dos arcades (começando com o jogo Pac Land).
Vejamos que Super Mario Bros. originalmente foi lançado em setembro de 1985 no Japão como mais um jogo da linha de pacotes de ação para o Famicom. E necessariamente era mais um entre tantos jogos naquele continente que ofereciam para seus jogadores respostas interativas muito eficazes. Quando a Nintendo resolveu entrar no mercado de jogos na América do Norte, Super Mario Bros não era um dos cartuchos enviados com o console durante o período de testes de vendas de mercado entre outubro e dezembro de 1985 (a versão testada nesse período continha o robô R.O.B. e jogos para ele). Acredita-se, inclusive, que Super Mario Bros. foi realmente disponibilizado para venda no início de 1986 nos EUA.
Teoricamente, o mercado mundial de videogames teve pouco menos de um ano para se redesenhar, uma vez que o jogo Super Mario Bros. passou a ser vendido com o pacote simples do NES (console, controles e o jogo) e causou o ressurgimento da compra de videogames nos Estados Unidos. Nem mesmo os especialistas da Nintendo, que estavam a mais de um ano estudando os hábitos de consumo dos americanos esperavam que daria tão certo.
A popularização global do personagem levou aos japoneses a uma sensação de pertencimento por parte do ícone Mario. Lembremos que existiam cicatrizes fortes do ataque liderado pelos americanos a Hiroshima e Nagasaki, e haviam se passado exatamente 40 anos do fim da segunda guerra mundial. Assim, Mario representava uma bandeira de dominação nipônica; silenciosamente penetrando os lares americanos. Mas esta é outra história.
A SEGA, assistindo todo esse movimento, olhou para si e viu que Opa-Opa, uma espécie de nave com emoções e sentimentos, era seu representante visual para o mercado. O personagem chamou atenção no jogo Fantasy Zone e foi considerado, por algum tempo, o que a SEGA representava. Fora isso a SEGA tinha seu reconhecimento pelos jogos de arcade, com títulos pouco expressivos, mas com mecânicas bem diferentes.
Alex Kidd foi desenhado para enfim bater de frente com seu jogo rival, Mario. Muito embora o jogo oferecesse muito mais coisas para se fazer durante uma partida, o jogador não foi cativado pelo game. Algo parecia não brilhar em Alex Kidd a ponto de representar uma virada no jogo do mercado. A SEGA percebendo sua pouca penetração no mercado norte-americano tratou, no mesmo ano, de lançar o Master System mundialmente. No Brasil, a TecToy foi a responsável pela fabricação e distribuição do jogo. Sucesso absoluto não somente por aqui mas também na Europa.
Aproveitando o sucesso momentâneo de Alex Kidd, a Sega decidiu lançar mais jogos sobre o rapaz das orelhas grandes, mas não obteve tanto êxito. Em Alex Kidd The Lost Stars, lançado em 1986 para os arcades, a dificuldade exagerada foi um dos fatores que fizeram do game um fracasso de vendas. Ainda esperançosa, a empresa lançou Alex Kidd BMX Trial, no qual o protagonista usava uma bicicleta e precisava desviar de obstáculos e inimigos que surgiam no caminho. O jogo deveria ser jogado com um controle especial tipo paddle, mas também não teve uma boa recepção. Enquanto isso, Super Mario Bros. e sua mecânica simplória desbancava qualquer outro jogo de plataforma que aparecesse.
Após o lançamento de outro jogo do personagem, Alex Kidd in the Enchanted Castle, a SEGA conseguiu retorno da mídia investida. Em 1990, ela lançou Alex Kidd in Shinobi World, onde apresentava melhoria gráfica e sonora, com dificuldade moderada, tornando-se um sucesso de vendas, misturando os personagens do universo da SEGA. Foi uma tentativa exitosa de dar ênfase a Alex Kidd, tornado ele um personagem reconhecido pelos amantes da SEGA.
Visando o futuro, a SEGA lançaria, em 1988, o Mega Drive, na investida de trazer a experiência dos arcades para usuários caseiros. Os jogos dos arcades da SEGA, inclusive os de Alex Kidd foram portados para o console. Sem êxito – em 1990, a Nintendo lançou seu novo console, Super Famicom, e da mesma forma que fez com seu console anterior, repetiu a estratégia e dava de graça o jogo Super Mario World na compra do console, acabando de uma vez só com as chances do Master System e o Mega Drive de se destacarem no mercado.
Alex Kidd como pseudo-celebridade
Com a fama do console e do mascote da Nintendo em cinco anos de domínio de mercado, a Sega precisou criar outro jogo para disputar com sua rival. Foi criado então Sonic, o ouriço – falamos dessa fase da SEGA no posto Sonic – a arma azul. Apesar de não ter títulos exclusivos lançados nessa fase, Alex Kidd fez aparições em jogos como Sega Superstars Tennis e Sonic & Sega All-Stars Racing Transformed. Além disso, Alex Kidd apareceu de formas incomuns em outros games através de Easter Eggs, que indicavam a morte do pequenino.
Em Segagaga, jogo lançado pela Sega em 2001 para Dreamcast, Alex Kidd é visto trabalhando como atendente em um comércio. Mas, durante uma lembrança, ele aparece sendo substituído por Sonic ao chegar no estúdio onde trabalhava. Já em Altered Beast é possível ver, durante uma fase, os possíveis túmulos de Alex e Stella (companheira de Alex no jogo Lost Stars), os dois personagens marcantes da franquia Alex Kidd pós Miracle World. Alex Kidd fez aparições em animes, mangás e tem uma linha de brinquedos inexpressiva.
Acredite: Alex Kidd tem uma narrativa
Alex Kidd pode ser conhecido como um pobre coitado dos videogames, mas em sua história no game, é tudo bem diferente. No jogo original, Alex é órfão e vive só, no Monte Eternal, no planeta Aries ou mundo miraculoso. O protagonista é treinado com a técnica Shellcore, essa técnica habilita um ariano a alterar o tamanho de seus punhos, o possibilitando a esmagar pedras. Essa seria a principal arma de Alex: sua capacidade de destruir coisas.
Vamos então ao conflito da narrativa: depois do desaparecimento do rei, o planeta Aries caiu em desgraça. Um usurpador, Janken o grande, sequestrou o sucessor ao trono, principe Egle e logo em seguida sua noiva a princesa Lora. Muitos cidadãos foram transformados em pedra pela magia de Janken, Alex Kidd descobriu de um homem em seu leito de morte que pertencia a família real e que o rei é seu pai. O homem lhe dá um mapa e um medalhão, Alex então prepara-se para resgatar seu pai, irmão, restaurar o reino e derrotar a Janken e seus monstros. O protagonista tem um irmão gêmeo: Egle (muitas vezes também chamado de Igul), que se tornou príncipe regente de Radaxian depois que seu pai, King Thunder, desapareceu. Embora não tenha ficado tão famoso quanto seu irmão, Igul participou de quase todos os jogos de Alex Kidd. Percebemos uma complexidade que não é explorada no jogo. Tudo é muito colorido, mágico e infantil, nada relacionado a uma trama que tem tons sobrios e sérios. Esse provavelmente é um erro fatal para Alex Kidd: a SEGA tentava sair do estigma do visual de Opa-Opa com uma narrativa envolvente, mas próxima do seu público dos arcades, mas deixava o visual do jogo da mesma maneira: bobo.
Se não entremos no conceito do personagem: Alex é um garoto pequeno com longas orelhas, ligeiramente parecidas com as de um macaco. Usa um macacão vermelho e amarelo. Sua aparência se assemelha com a de um adolescente e sua idade é de mais ou menos 14 anos. Há algo de diferente em Alex em relação a um adolescente comum, por causa de seu mundo e suas técnicas.Sua aparência esta entre uma túnica mandarim, ou um macacão amarelo e vermelho. O personagem tem aspectos de nobreza, humildade e pureza. São referenciais que não combinam com socos em pedras.
Concluindo: personagem natimorto
Alex Kidd in Miracle World foi o primeiro título da franquia com um personagem que deveria ser carismático e deveria permitir uma jogabilidade inovadora. Seus gráficos bonitos e diferentes cenários se uniam a uma mecânica muito divertida e diferente de seus concorrentes – uma marca registrada da SEGA.
A grande brincadeira do game era a possibilidade do personagem principal quebrar pedras e derrotar inimigos usando os punhos. Além de possuir diversos veículos que podiam ser controlados durante o jogo, os chefões de Alex Kidd in Miracle World eram derrotados em partidas de Jo Ken Po – ou Pedra, Papel e Tesoura. O que define a taxonomia de um jogo são pelo menos três essenciais características: objetivo, desafio e foco. Alex Kidd escapa desse princípio do Game Design.
Somente agora é que se desvela a triste realidade de Alex Kidd: o jogo tem o foco em PULO e não em SOCO. Enquanto que Super Mario Bros. define todo o seu algoritmo em um sistema de pulo totalmente planejado em favor do desafio, Alex Kidd tem uma série de recursos inúteis e pouco explorados. Se o soco da Alex Kidd fosse realmente importante, ele não seria tão curto e acanhado, afinal houve treino para isso. E mais ainda: a capacidade de Alex Kidd fazer algo que Mario não faz foi muito vendido pela SEGA nas capas dos jogos e nos anúncios.
Mas voltando a questão central desse artigo: o pulo. Alex Kidd não tem uma mecânica de pulo tão aperfeiçoada como Super Mario Bros. – e não ache que isso é um detalhe – essa é a diferença crucial. quem joga o game prefere desviar dos inimigos do que atacá-los, até porque vários deles são indestrutíveis e não é possível reconhecer quem derrubar com os punhos. Assim a melhor estratégia é desviar…pulando. E assim como todos os jogos de plataforma, Alex Kidd se tornou mais um jogo da taxonomia cujo pulo é o foco.
E por ainda não saber pular, nosso Alex Kidd se perdeu no tempo. Não foi a narrativa que só se lia no manual e não se via no conceito. Não foi Super Mario ter se tornado a bandeira nipônica de vingança contra os EUA. Nem mesmo o visual do personagem que não representava uma garotada juvenil que gostava de Rambo, Zillion e Transformers. Foi o pulo senhores. Foi o pulo.
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Atualiazado em 22/04/2017 por Daniel Gularte
O meu preferido é Alex kid in miracle world…bons tempos de master system!!!!
Um hacker fez um “port” pra Master System do primeiro jogo do Duke Nukem que saio pra DOS, ele usou a engine do Alex Kidd, a primeira coisa que achei estranha foi o pulo, muito ruim pra calcular, ai agora que eu li sobre essa questão do pulo ai que você falou isso fez todo o sentido pra min