Sumário
O Instituto Bojogá realizou, dos dias 9 a 13 de janeiro de 2023, uma oficina de criação de jogos de impacto para o Centro de Design do Ceará, a partir do edital de Credenciamento de Designers para realização de oficinas, palestras e cursos. a proposta chamada de Vire o Jogo – os games como ferramenta na transformação do cidadão, teve como objetivo principal fazer com que o cidadão da cidade de Fortaleza pudesse usar o design de jogos para falar sobre problemas e soluções para diversos assuntos, como sustentabilidade, cultura e diversidade.
A proposta
O novo normal pós-pandêmico fez com que a humanidade desenvolvesse novas relações com as tecnologias digitais. O consumo de jogos aumentou 20% no Brasil e a necessidade de empresas, escolas e a grande comunidade cultural de se apropriar da linguagem dos jogos passou a ser uma estratégia para se aproximar dos vários públicos.
Para muitos, 2020 e 2021 foram anos de guerra contra o vírus e a desinformação, cujas armas ainda estariam por vir, mas com recursos para nos proteger. Contudo, ocorreu uma invasão abrupta de privacidades, usos e modos de viver que, juntamente com todos os problemas econômicos e sanitários, transformaram as pessoas do dia para a noite. Esse fenômeno amplificou o uso da Internet nos discursos de uma “bolha odiosa”, principalmente no Brasil. Além disso, a grande propagação de mensagens falsas vem aumentando e tomando lugar na mídia de consumo digital, a ponto de atrapalhar, por exemplo, os próprios programas de saúde do país, e por consequência postergando mais e mais a luz do fim do túnel que tanto se almeja.
A cultura dos jogos se consolidou nos anos 80, época em que famílias se reuniam para se divertir em um jogo de tabuleiro. Com temas variados, eles promoviam a discussão sobre assuntos que envolviam de forma divertida aspectos da vida e do cotidiano. Ao longo dos anos, essa cultura foi se modernizando e conquistou gerações através dos videogames. Hoje ela está presente na música, nos desenhos animados, nos filmes, na literatura. Promove também uma linguagem democrática. Seja na locadora, no shopping ou na escola, os jogos eletrônicos hoje são uma linguagem imersiva, de fácil assimilação e desperta o interesse em todas as idades. Desse modo, encontramos uma forma interessante de diálogo entre a família e o jovem: o jogo.
Contudo, entende-se que as famílias menos favorecidas não possuem acesso às tecnologias digitais, e os jovens não possuem capacitação para produzir games. De acordo com os projetos realizados pelo Bojogá de 2016 a 2019 em instituições da cidade de Fortaleza que apoiam o projeto, percebe-se que a comunidade do Moura Brasil e adjacências possui baixo IDH e diversas semelhanças com o levantamento anteriormente elucidado. A missão dessas instituições culturais em transformar o entorno e a alta fixação da linguagem do game pela população possibilitou que o Bojogá construísse tais ações. O desafio agora é não somente inserir esse cidadão na cultura, mas fazer com que ela ajude a transformação dela.
Metodologia
A oficina segue o modelo de práticas em prototipação de jogos usando papel. O primeiro passo é a discussão dos jogos como ferramenta de transformação. Depois acontece o processo de ideação, refinamento do problema e finalmente a prototipação, com testes e feedbacks. Os alunos são estimulados a conhecer os modelos de produção de jogos e as formas de publicação.
Dentro de um sistema de financiamento coletivo, ou crowdfunding, por exemplo, pessoas comuns enviam projetos de livros, jogos de tabuleiro e cartas, dentre outros. Dos projetos enviados no Brasil, quase 30% são jogos e mais da metade são analógicos, uma alternativa que se encaixa perfeitamente no modelo que se persegue neste projeto. Com a devida capacitação e formação, acredita-se que jovens em estado de risco podem criar projetos via crowdfunding e gerar renda para suas famílias. Dessa forma, o jovem, que antes era um indivíduo sem perspectiva, se tornará um cidadão pensante e dirá para si mesmo: “para mim, o mundo pode ser um jogo a ser vencido”. Formação via entretenimento, discussão e reflexão do papel cidadão através de práticas lúdicas e imersão em atividades democráticas dentro da linguagem do jovem são a resposta que procuramos para tirá-los de um caminho obscuro – uma luz a partir dos jogos.
Como resultados esperados, os jovens participantes fizeram um protótipo de jogo a partir das vivências e desafios reais de suas vidas, desenvolvendo um game design para superar esses desafios que serão jogados pelos seus amigos.
O Curso
Os jogos e sua importância na cultura da transformação, Design de jogos para impacto social, Gamecultura e fruição, identidade e representação de jogos, desenho de jogos analógicos, tipologias motivacionais humanas, técnicas e metodologias de criação de jogos de mesa, design gráfico e produção gráfica, identidade visual, marketing e empreendedorismo.
Público-alvo
- Crianças e Jovens da comunidade, com foco na periferia
- Professores da educação básica, fundamental e médio interessados em aplicar jogos em suas práticas
- Professores de cursos de design, pedagogia, artes, comunicação e demais áreas que estudam os jogos como manifestação da sociedade
- Pessoa usuária, entusiasta da área de jogos, autodidata
Objetivos
- Apresentar conceitos de Gamecultura e linguagem dos jogos
- Desenvolver competências na produção de jogos analógicos
- Produzir um projeto de jogo analógico de impacto social• Aproximar o cidadão das práticas de design de jogos como ferramenta de solução de problemas
- Criar relacionamentos entre os jovens e o mercado empreendedor
- Estimular as práticas de design que envolvem protagonismo, ativismo político, isonomia de saberes, produto ecologicamente correto e sustentável.
Conteúdo Programático
- Jogos de Impacto
- Problemáticas
- Narrativas
- Mecânicas
- Dinâmicas
- Prototipação
- Produção Gráfica
TOTAL : 20 horas
Entregas
Todas essas atividades foram apresentadas de forma lúdica e divertida, onde foram disponibilizados videogames retrô para inspirar a criatividade e design dos jogos. Houve envolvimento das famílias e dos visitantes em algumas das atividades propostas. O material de aula para a confecção dos protótipos são analógicos como papel, caneta, elementos de jogo (cartas, dados, blocos, peças) de diferentes tipos encontrados de forma sustentável na comunidade (tampinha de garrafa, botões, etc), bem como material de expediente como tesoura, cola, etc.
As equipes produziram três jogos. O primeiro foi um jogo para estimular pessoas a conhecerem pontos turísticos da cidade de Fortaleza. O segundo foi um jogo para acessar os equipamentos culturais e o conhecimento histórico da cidade. O último foi um jogo para alertar sobre a necessidade de cuidar do meio ambiente, especialmente das plantas.
Galeria
Atualiazado em 16/02/2023 por Daniel Gularte