Sumário
Muitos jogadores da atualidade não sabem, mas os adultos de hoje tiveram as suas maiores experiências com os games não apenas por meio dos videogames, mas também em outras plataformas. Os arcades (ou fliperamas) e os computadores faziam, junto com os consoles de mesa, o principal tripé da indústria de jogos nos anos 80 e 90. Jogos eram programados para o que se conheceria como efeito multiplataforma. Quando não podiam ser codificados, eram totalmente reconstruídos, com outra estética e design das mecânicas. Dessa maneira, temos uma gama ainda mais heterogênea de jogos com o mesmo nome, impulsionando cada plataforma de jogos a elevar sua qualidade e experiência, que precisa ser adequadamente preservada.
O estudo dessas plataformas é essencial para compreender, por exemplo, o que se denomina como a evolução de uma nova geração nos games – o momento em que passamos por transformações estruturantes no ecossistema. Por isso, o estudo dos jogos eletrônicos não é somente um caso dos videogames em si, mas do enlace das outras plataformas e sua influência na cultura e na sociedade. É o que o Museu Bojogá conseguiu realizar no final de agosto de 2021, através de uma doação feita por uma personalidade cearense, que viveu parte dessa narrativa, e que precisa ser contextualizada para vocês.
Antes da explosão dos jogos de PC
Com o fim da reserva de mercado no início dos anos 90, o Brasil novamente abriu as portas para as tecnologias importadas. Isso acabou quebrando uma série de empresas nacionais que construíam seus computadores domésticos, principalmente porque era o momento do país conhecer o PC (Personal Computer) e o brasileiro ter finalmente a capacidade de montar e configurar seu setup computacional.
As feiras de utilidades domésticas, eventos na maioria das vezes restritivos numérica e geograficamente, estavam com seus dias contados. No início dos anos 90, dezenas de empresas foram introduzidas e representadas através da importação de tecnologia. As feiras de informática apresentavam, além de computadores montados, centenas de expositores de fornecedores de placas, processadores, periféricos e suprimentos. E o melhor: era aberto para a população como um verdadeiro mercado livre. Registros em todo o Brasil mostram o poder dessas feiras, atraindo jovens para o universo das TICs. Lembramos também os incentivos na aquisição de máquinas PCs em universidades, centro Educacionais e escolas, que permitiu que os primeiros grupos de profissionais em tecnologia instituíssem não somente os programadores de dados, mas diversas outras especialidades, como suporte, computação gráfica, design web.
Em meio a esse momento “desenvolvimentista” das TICs no Brasil, surge a Internet. Inicialmente restrita às universidades, aos poucos abriu as portas para que os PCs logo se interconectassem através do Modem. Um universo se abriria para a geração X, que se afeiçoou ao computador como novo xodó da sala de estar, deixando por um tempo os videogames de lado, como uma brincadeira de criança. No Ceará, a feira de informática mais importante da época foi a Infosol – Congresso e Feira de Informática e Telecomunicações, com início em 1994. Diversos entusiastas adquiriram seus jogos nessas feiras. Mas também não podemes esquecer as Soft Houses nos bairros que trocaram os antigos MSX pelos jogos de PC.
Mais um Gatekeeper
Não importa onde e como, mas a experiência nos mostra que existe um guardião da história em algum lugar da sua região. Pessoas que são, além de fãs, devotos a conhecer, estudar e preservar a história. Um destes entusiastas é Daniel Praciano, que trabalha com Jornalismo online desde maio de 1997, tendo sido um dos responsáveis pela criação da primeira editoria de internet do Ceará e a quinta do Brasil no Diário do Nordeste, com conteúdo de última hora e material inédito e exclusivo. Antes, em 1995, Daniel era um pesquisador e fã de jogos para computador (e que viveu também sua infância com os videogames), e o jornais iniciaram na internet apenas com a transposição do conteúdo do papel para a Web. Daniel ficou nessa função até janeiro de 1998 quando se tornou repórter do caderno de Tecnologia do jornal, permanecendo no cargo até 2001.
Em sua jornada como profissional, Praciano comprava os jogos de PC disponíveis na cidade de Fortaleza e escrevia sobre eles para a sociedade cearense. Seus textos, publicados online, logo chamaram a atenção de publicadoras nacionais de games. Era por volta de 1998 quando Daniel recebia correspondências como da EA, Greenleaf, CD Expert, mensalmente com diversos jogos para que pudesse escrever sobre eles. Essa função de jogar e estudar esses jogos foi até 2003, quando novos desafios apareceram. Praciano ajudou a criar o Portal Verdes Mares, bem como contribuiu com centenas de matérias sobre tecnologia para o povo cearense, com temas sobre Cybersegurança, redes de internet, e jogos que continuava a receber até meados dos anos 2000.
Com o lançamento do Xbox, Daniel passou a se interessar pelos videogames novamente, até comprar um Xbox 360 em 2010 e escrever sobre essa plataforma. Nos anos 2010 Daniel Praciano ficou responsável pelo caderno de tecnologia e todos os outros produtos dessa linha do veículo jornalístico Diário do Nordeste. Conheceu o projeto Bojogá e fez matérias e entrevistas do projeto. Agora, 11 anos depois, o jornalista vai alçar um voo ainda maior, e que, por questões pessoais, envolveu passar para frente todos os jogos que colecionou em sua jornada profissional e pessoal.
O inventário
A organização do material feita por Daniel Praciano o surpreendeu. Ao todo, o jornalista havia guardado mais de 400 títulos de jogos para PC de meados dos anos 90 até o início dos anos 2000. Em seu espírito de jogador e pesquisador, Daniel não pensou duas vezes e entrou em contato com o Museu Bojogá para iniciar as tratativas para o processo de doação. A principal dúvida era o destino final dos jogos e como acondicionar todo o material.
A negociação envolveu não somente a doação dos jogos, mas de um móvel inteiro. Como Praciano estava com bastante interesse em rapidamente doar seu acervo, pois tinha compromissos profissionais agendados (envolvendo viagens e organização de tempo), o melhor foi escolher um dia específico e levar de uma vez tudo que envolvia caixas, CDs e jogos de todo tipo. Em diversas caixas encontramos jogos e aparelhos para a família Xbox. Também encontramos sistemas operacionais e muitos aplicativos para PC de época, todos em formato CD.
A coleção particular de Daniel Praciano possui impressionantes artefatos da época de ouro dos jogos em CD para computador. São registros de propriedades intelectuais nacionais e internacionais importantes, como por exemplo os CDs do Jogos Dungeon Siege em sua versão GOLD (release para avaliação e publicação final), os raros jogos Adolf e Incidente em Varginha (games brasileiros da época), diversas versões de jogos consagrados em plataformas como Playstation e Sega Saturn, mas para a versão para PC. Veja alguns exemplos:
Agradecemos a confiança do amigo e apoiador Daniel Praciano pela escolha do Museu Bojogá para perpetuar essa história afetiva e também profissional. Desejamos ao nosso jornalista um enorme sucesso em sua nova fase pessoal e profissional, e que os cearenses agradecem seu trabalho de preservação e documentação da memória dos jogos no Ceará. É uma enorme responsabilidade para nós do Museu continuarmos a perpetuar a história desses jogos, garantindo a presença do Ceará como produtor de cultura e conhecimento.
E se você também tem algum item histórico que conta um pouquinho da nossa história com os jogos, entre em contato com a gente! Dezenas de pessoas já doaram para o Museu Bojogá e nos ajudaram a manter viva a preservação histórica da linguagem dos jogos. Para saber mais, conheça a nossa campanha de sustentabilidade Não Jogue Fora.
Atualiazado em 08/09/2021 por Daniel Gularte
Alguem tem a ISO do Adolf? Nao podemos deixar esse jogo morrer no esquecimento!!!
Nos anos 90…mais ou menos na época do aparecimento do Super Famicom…lembro que eu sempre ia em locadoras e fliperamas!!!! Desejava muito ter um video game de 8 bits que eu sempre via nas lojas de eletrodomésticos: Top Game VG 9000 da CCE!!!! Naquela época vc via os clones do Nes e os video games da TecToy em lojas do quesito!!!! Vi e joguei no Nes original em uma locadora, enquanto muitos já sonhavam em ter um video game de 16 bits, eu ainda sonhava em ter um de 8 bits…tenho saudades dessa época!!!! Nessa fase de locadoras e fliperamas, comecei a fazer um curso de Operador de Micro…Conheci um mundo novo nessa época da Sega vs Nintendo!!!! Fiquei maravilhado com os jogos de PC e toda aquela tecnologia em que poucos também poderiam ter!!!! Video games e PCs meio que evoluiram juntos em harmonia e ao mesmo tempo em mundos diferentes, acredito!!!! Bons tempos de antigamente!!!! valeu