A sociedade pode ser compreendida de forma estruturada, e o conceito de setorização é um reflexo disso. Auguste Comte (1830), um dos pioneiros da sociologia, utilizou a metáfora do “organismo vivo” para explicar a sociedade, esta composta por partes que cooperam para o funcionamento do todo. Embora o positivismo de Comte não se aplique com exatidão à realidade social complexa, a analogia em que a sociedade se organiza estruturalmente em setores equivalentes aos órgãos de um corpo pode nos ajudar a entendê-la. Os setores podem tratar de áreas específicas dentro da sociedade, como saúde, educação e segurança, que são exemplos de setores fundamentais, enquanto outros emergem e se multiplicam conforme a sociedade se desenvolve, como setores voltados à tecnologia, economia criativa e sustentabilidade.
A setorização acaba por se tornar um movimento natural e necessário para a organização social, consistindo na divisão e especialização de áreas que compartilham características semelhantes. Émile Durkheim (1893), ao discutir a divisão do trabalho social, argumenta que a especialização dos setores é essencial para garantir a coesão social, pois permite que cada parte da sociedade exerça funções complementares para o equilíbrio do todo. Os interesses que motivam essa segmentação vão além das necessidades essenciais, abrangendo diferentes vontades e objetivos humanos, o que leva ao surgimento de setores como industrial, logístico, cultural e turístico. Cada um deles realiza ações específicas voltadas para a sociedade, beneficiando direta ou indiretamente os indivíduos.
O desenvolvimento de um setor ocorre em resposta às demandas sociais e econômicas, evoluindo de forma diversa e, em muitos casos, imprevisível. Para garantir que esses interesses sejam atendidos de forma eficiente, torna-se necessário um planejamento estratégico, que pode ser expresso e formalizado por meio de um plano setorial. Esse documento apresenta uma análise abrangente de um setor, detalhando suas características, objetivos e formas de operacionalização futuras, funcionando como uma ferramenta essencial para direcionamento e monitoramento. Manuel Castells (1999), ao discutir a transição da sociedade industrial para a sociedade em rede, destaca que a governança de setores na atualidade precisa considerar a interconectividade entre diferentes agentes e contextos sociais, o que torna o planejamento estratégico ainda mais relevante.
A elaboração de um plano setorial adota uma abordagem estratégica, fundamentada em uma análise detalhada do contexto social local. Ao envolver um conjunto de atores, o plano mede o impacto de suas ações, considerando as necessidades sociais da região onde está inserido. O objetivo é alinhar as iniciativas de modo a proporcionar benefícios tangíveis para todos os envolvidos, direta ou indiretamente, e contribuir para o desenvolvimento sustentável do setor e da sociedade como um todo.
Para aprofundar essa reflexão, utilizo o argumento para a sustentabilidade presente no “princípio da responsabilidade” de Hans Jonas (1979). Jonas propõe uma ética voltada para a nossa era tecnológica, em que o poder técnico empregado pelo ser humano é tão potente que pode facilmente sair do controle. Para isso, ele sugere a “heurística do medo”, na qual, antes de agir, é necessário medir as consequências de nossas ações, considerando seu impacto a longo prazo e seu potencial de ameaça à vida humana.
Ao trazer essa perspectiva para o contexto de um plano setorial, percebemos que sua criação permite projetar cenários futuros, antecipando possíveis desdobramentos e considerando impactos positivos e negativos. Esse processo atua como um mecanismo preventivo, garantindo que as ações implementadas hoje sejam sustentáveis e minimizem riscos futuros. Dessa forma, um plano setorial não apenas organiza e regula um setor, mas também orienta sua evolução de maneira ética e responsável.
Assim como os órgãos de um corpo trabalham para o bem-estar geral, um plano setorial visa à sustentabilidade do setor, garantindo sua operacionalidade e eficiência. Para isso, é fundamental que inclua estratégias que assegurem a continuidade e o crescimento sustentável, alinhadas com princípios éticos que garantam um impacto positivo para toda a sociedade. A sustentabilidade de um plano setorial é, portanto, um aspecto essencial para seu sucesso a longo prazo, consolidando o setor como uma parte vital do “organismo social”, ao mesmo tempo em que previne sua possível obsolescência ou colapso.
Como mecanismo de intervenção social, um plano setorial é uma ferramenta estratégica e valiosa, que se estende além de seu próprio escopo, refletindo sobre as diversas nuances de uma região e propondo ações que visem ao bem-estar coletivo. Ele não apenas estrutura um setor, mas também possibilita a adaptação às mudanças sociais, tecnológicas e ambientais, garantindo que seu impacto seja duradouro e benéfico.
Referencias
Os Primeiros Sociólogos: Pioneiros na Compreensão da Sociedade e das Relações Humanas
DESEMPACA: POSITIVISMO EM CINCO MINUTOS
POSITIVISMO | QUER QUE DESENHE | MAPA MENTAL | DESCOMPLICA
ÉMILE DURKHEIM | QUER QUE DESENHE | MAPA MENTAL | DESCOMPLICA
INTRODUÇÃO À SOCIEDADE EM REDE DE MANUEL CASTELLS [Como a sua vida mudou para sempre!]
Atualiazado em 28/02/2025 por renan753