Sumário
Mario Arnold Segale, proprietário de uma empresa imobiliária e de construção de Seattle que inspirou o nome do famoso mascote da Nintendo, faleceu recentemente, em 27 de outubro de 2018, de acordo com relatórios do The Seattle Times e do The Auburn Reporter. Ele tinha 84 anos e muitos jogadores não conhecem a intrigante história que envolve ele, a Nintendo e o maior ícone dos jogos eletrônicos: a franquia Super Mario. Fizemos uma extensa pesquisa e trazemos tudo o que se sabe sobre o enigmático Mario Segale, o Mario da vida real.
O Mario dos jogos
Todo mundo conhece Mario do jogo Super Mario Bros. E como – uma enquete ainda em 1991 muito citada a época descobriu que mais crianças americanas reconheciam o mascote alegre da Nintendo do que o próprio Mickey Mouse. Quase duas décadas depois, o famoso encanador dos desenhos animados, sempre vestido com um macacão azul, faz regularmente sucesso em jogos de sucesso para os consoles da Nintendo. Mario virou inclusive símbolo das olimpíadas de Tokio de 2020.
Com relação às origens de Mario, é de conhecimento comum entre os fãs do jogo que o lendário designer de jogos Shigeru Miyamoto o criou para o jogo de arcade Donkey Kong, de 1981. Donkey Kong havia sido uma reprogramação da placa de arcade da Nintendo do jogo Radar Scope baseado no chipset do jogo Galaxian – Radar Scope teve um enorme fracasso, e logo na primeira investida da empresa em territórios estadudinenses. O jogo tem fortes influências de títulos como Popeye (que inclusive seria o jogo oficial, até ocorrer uma quebra de contrato) King Kong e A Bela e a Fera – é um dos primeiros jogos que ensaiaram o gênero de jogos plataforma com narrativas. Mesmo com ressalvas, Minoru Arakawa autorizou a fabricação das unidades de Donkey Kong nos EUA, e um dos desafios era a tradução do jogo e sua narrativa. Disso nasceu o nome Pauline, a donzela, e Mario, o protagonista.
Mas o que poucos sabem é que a Nintendo pegou emprestado o nome de Mario e toda sua herança italiana de um homem de carne e osso. O nome desse homem é Mario Arnold Segale, e ele definitivamente não é um encanador. Ele foi um rico empreendedor imobiliário em Tukwila, Washington. Segale e entrou meio que por acaso na história dos videogames, alugando um depósito que serviria como sede da Nintendo nos EUA nos anos 1980. Naquela época, a Nintendo of America (NOA) lutava financeiramente para se estabelecer. Reza a lenda que o presidente da NOA, Minoru Arakawa, notou semelhanças físicas entre o protagonista de cabelos escuros de Donkey Kong e o senhorio cobrador. Então a equipe da NOA apelidou o personagem de Mario, e o nome pegou a partir de então.
O Mario da vida real
Conhecendo a história acima, é natural que os entusiastas de videogames tenham curiosidade sobre a vida de Segale. Se ele realmente era parecido com o personagem dos videogames ou como ele se sente ao inspirar traços de um personagem tão aclamado. Foi extremamente difícil responder a essas perguntas pois o próprio Segale sempre foi um tipo difícil de se extrair relatos. Em parte por causa de sua associação com o personagem da Nintendo – que amigos e colegas dizem que ele não apreciava tal comparação. Segale era um homem tão quieto e de perfil muito resguardado que praticamente não se tem quase nenhuma referência sobre ele.
Segale nasceu em Seattle e é filho único de dois imigrantes italianos de primeira geração, Louis e Rina Segale. Ele se formou na Highline High School em 1952, e era apaixonado por carros. Fundou uma empresa de construção com um único caminhão em 1957, no mesmo ano em que se casou com sua esposa, Donna. O casal trabalhou para desenvolver um negócio de construção e asfalto de propriedade privada, a MA Segale Inc., que se transformou em uma grande empreiteira regional.
Segale sempre recusou pedidos de entrevistas sobre ele e seu homônimo. Algumas pessoas mais próximas dele concederam alguns relatos, mas sempre no anonimato – Revelar seus nomes poderia comprometer seus relacionamentos com Segale. Ele, em relação aos games, desejou ser uma figura tangencial na história dos videogames.
Se há uma coisa que é consistente em Segale é sua aversão à publicidade. Sempre muito reservado e também muito italiano, é lembrado por amigos como um homem que valoriza a lealdade, o respeito e a confiança. Mario tem um círculo familiar muito unido e de tradicionais modos, sempre se distanciando sua relação ao personagem Super Mario com medo de interferir em seus negócios, finanças, relações políticas e privadas. Segale foi significativamente mais reconhecido como empreiteiro no jornal Seattle Times, que vem cobrindo suas aventuras não no mundo dos cogumelos, mas no realista setor imobiliário há décadas.
De fato, o jornal Times recentemente examinou mais de perto o lado sério de Segale em um artigo que examinou seus atuais projetos de desenvolvimento na área de Tukwila. O principal deles é o “Tukwila South”, uma extensão de 500 acres de terras comerciais que Segale comprou há décadas e agora está se preparando para se transformar em um enorme parque de escritórios. O artigo do jornal aborda os negócios e o histórico político de Segale muito mais do que um jornalista de entretenimento normalmente gostaria de explorar em uma matéria sobre games.
Mario valorizava sua privacidade e conquistas em relação ao dinheiro, e é por isso que ele não aceitou nenhum possível lucro por ser o inspirador do Super Mario. Ele foi apenas mais um homem normal, rico por si próprio, meio rabugento. Nunca usou macacão e nas últimas décadas deixou de usar bigode (aliás não se tem registros fotográficos dele de bigode e fontes afirmam que ele não o usava desde o final dos anos 80 até meados dos anos 90).
De qualquer maneira Segale não era muito alto, usava suspensórios e não estava nem aí para esse negócio de Super Mario e videogames. O que Segale realmente pensava sobre essa coisa toda está em uma única citação registrada em um artigo de 1993 do Seattle Times.
Times: Então, o que o senhor acha de seu nome ser usado em um jogo que vendeu mais de 100 milhões de cópias e fez da Nintendo uma das empresas mais lucrativas do mundo.
Segale: Você pode dizer que ainda estou esperando por meus cheques de royalties.
Segale desde então não tem falado para qualquer representante da mídia sobre qualquer assunto relacionado a videogames.
Mario dos negócios
Mario Segale foi um grande empresário americano do mercado imobiliário. Ele esteve envolvido em vários projetos de desenvolvimento na área de Seattle a partir da década de 1950. Sua empresa alugava diversos imóveis na região e faziam ampliar seus negócios com um forte e consolidado pleno de trabalho e cobrança, bem comum de qualquer negociante italiano. Durante décadas Segale e seu filho Mark estavam envolvidos em outros empreendimentos, incluindo investimentos imobiliários na área de Seattle. Sua empresa vendeu os direitos sobre a terra para a pista de corrida Emerald Downs em Auburn para o grupo Muckleshoot em 1996 por US $ 73,6 milhões. A MA Segale Inc. foi vendida por US $ 60 milhões em 1998 à empresa irlandesa CRH plc, para integração em sua unidade da Oldcastle Materials.
Segale e a Nintendo
Segale era dono do parque empresarial que abrigava a operação de arcades norte-americana da Nintendo no início dos anos 80, quando a empresa estava ocupada convertendo milhares de gabinetes de Radarscope fora de uso para rodar Donkey Kong. Na época, o presidente da Nintendo of America, Minoru Arakawa, e outros executivos estavam tentando criar um nome americanizado para o avatar do jogador, que ainda era chamado de “Jumpman” ou “Moveman” naquele momento (um nome que aparece nas artes iniciais do gabinete de Donkey Kong), similarmente a Pac-man.
Em 1981, durante o desenvolvimento do arcade que se tornaria Donkey Kong, Segale visitou o armazém para cobrar o aluguel atrasado e acabou se encontrado diretamente com o presidente Minoru Arakawa, que o repreendeu na frente dos funcionários de forma muito veemente e ríspida. De acordo com a história amplamente divulgada, Segale, mesmo contrariado, resolver esperar o pagamento, uma vez que a Nintendo of America dependia do sucesso de Donkey Kong para literalmente pagar as suas dívidas. Após o inusitado episódio, Arakawa e os outros desenvolvedores subsequentemente imortalizaram a figura de Segale renomeando a estrela de Donkey Kong, anteriormente conhecida como “Jumpman”, para “Mario”.
Esta história foi publicada pela primeira vez no livro Game Over de David Sheff em 1993 (no entanto, por causa de um erro ortográfico neste livro, por anos foi pensado que seu sobrenome era soletrado Segali), e mais tarde a mesma história foi atualizada no livro The Ultimate History of Videogames de Steven L. Kent em 2001. A partir de então a notícia se espalhou amplamente na Internet, ainda como mito.
Como diz a história, quando Segale chegou a Arakawa para exigir de forma muito rude o pagamento de uma conta de aluguel atrasado, a inspiração aconteceu. A história contada no livro de David Sheff sugere que os executivos exclamaram “Super Mario!” depois da visita de Segale. O pesquisador Benj Edwards observa em uma profunda exploração do conto em 2010, a descrição “Super” para o personagem não se tornaria comum até o lançamento de Super Mario Bros. em 1985. Outras versões ao longo dos anos vão tão longe que sugerem que o termo “Super” veio do papel de Segale como “superintendente” do prédio, mas essas histórias possuem poucas evidências diretas e são tidas como mitos.
Em uma entrevista à MTV de 2005, Shigeru Miyamoto, da Nintendo, mencionou erroneamente o galpão americano da Nintendo sendo em Nova York (na verdade um primeiro escritório inicialmente se estabeleceu por lá). Miyamoto também erroneamente sugeriu que Segale “tinha uma notável semelhança com o personagem que havíamos projetado no Japão para o jogo”, mostrando o quanto a história pode se distorcida com o passar do tempo, mesmo entre alguns dos principais desenvolvedores do jogo. Em 2015, a Nintendo confirmou que seu personagem Mario é de fato inspirado no nome de Mario Segale.
O fato é que certamente Miyamoto, Arakawa e todos os funcionários que presenciaram essa curiosa aparição de um italiano meio baixo e gordinho, de personalidade não muito hospitaleira e marcante, sotaque curioso, suspensórios (e o provável bigode) foi uma bem-vinda coincidência que definiu o caráter do Mario de Donkey Kong. Ao atrelar não somente o nome, mas as características de comportamento ao personagem, muitas coisas fizeram sentido n narrativa do personagem que perdura até hoje. Primeiramente o próprio bigode e as cores que remontam o italiano. Essa personalidade sempre esteve presente, mesmo sendo impossível de ser representada nos primeiros jogos, mas rapidamente demonstrada nos desenhos animados e nos jogos pós anos 90.
Game Over
Um estudo de 2004 do Seattle Times descobriu que Segale foi um dos 50 principais contribuintes políticos no estado de Washington. No geral, Segale e seu filho Mark doaram mais de US $ 90.000 para candidatos e organizações democratas entre 2000 e 2007. Algumas dessas contribuições foram para funcionários eleitos que trabalharam para assegurar os marcos legislativos estaduais para estradas em um desenvolvimento privado proposto por uma empresa Segale.
Influente na política e nos negócios da sua empresa familiar, Segale foi esquecido por todos, cuidando dos seus próprios negócios, até que a mídia divulgou sua morte. Segale morreu de causas não especificadas em 27 de outubro de 2018, em sua casa em Tukwila, Washington, aos 84 anos. Ele deixou a esposa Donna Segale, quatro filhos – Lisa Atkins, Mark Segale, Nina Covey e Nita Johnson – e nove netos.
No obituário do Seattle Times, Segale “sempre se esquivou da notoriedade [por ser o homônimo de Mario] e queria ser conhecido pelo que realizou em sua vida”, como construir um negócio bem-sucedido de construção a partir de um único caminhão, comprado depois do colegial em 1952. Apenas depois de sua morte é que muitos curiosos, pesquisadores e entusiastas referendaram Mario Segale como o “Mario da vida real”. A própria Nintendo não fez muito uso dessa história, provavelmente porque acredita-se que o uso do nome Mario é uma sátira ao empresário. Outra teoria da aponta que a Nintendo teria algum tipo de receio de expor essa conexão e ter que pagar alguma espécie de indenização ou ainda royalties por usar o nome e as características de Mario Segale em seus jogos.
Mario Segale se foi. A indústria dos jogos eletrônicos não vai sentir a sua falta. Contudo, Super Mario está com o coração apertado, pois é como se um distante familiar seu não estivesse mais entre ele.
Curiosidades
- Embora ficasse pouco tempo longe do trabalho, Mario Segale adorava seu avião, uma boa piada, e principalmente da cor vermelha (coincidentemente a cor representativa do Super Mario)
- Segale é um ávido caçador de patos que raramente perde uma temporada de caça. Outra obscura coincidência com o cartucho Super Mario Bros./Duck Hunt, da Nintendo
- Algumas pessoas, pesquisando pelo nome Mario Segale na internet, encontraram registros do início dos anos 1970, onde Mario Segale – um editor da Houghton Mifflin – chocou a indústria editorial com a publicação de sua trilogia The Publisher, um relato fiel das famílias do crime organizado no mundo editorial. O romance tratou das guerras entre as “Cinco Famílias” na manipulação da indústria editorial. Nos anos 70 e 80, os romances de Segale inspiraram os filmes do Poderoso Chefão. O autor, logo após o lançamento das obras, desapareceu misteriosamente, mas reapareceu em 1975. Você pode imaginar isso apenas uma coincidência de nome, mas a foto ao lado é de Mario Segale (o autor) – parece ou não o Super Mario?
Atualiazado em 09/11/2018 por Daniel Gularte
Triste!!!! Valeu Mario Segale!!!!