A indústria de jogos digitais, desde seus primórdios, tem sido marcada por uma cultura de trabalho informal, característica que ainda persiste em diversos segmentos do setor. Nos anos 1970 e 1980, quando a indústria começou a se consolidar com os primeiros estúdios e publicadoras, o desenvolvimento de jogos frequentemente ocorria em ambientes pouco estruturados, muitas vezes em garagens, universidades ou pequenos escritórios improvisados. Empresas como Atari, id Software e outras pioneiras operavam com equipes reduzidas, onde os papéis dos desenvolvedores eram fluidos e a carga de trabalho não seguia padrões convencionais.
Diante desse cenário cultural, é razoável supor que a formalização e a organização do setor enfrentariam desafios. De fato, por muito tempo, a indústria de jogos operou de maneira descentralizada, com movimentos e práticas disruptivas. No entanto, apesar dessas adversidades, o setor manteve um crescimento contínuo ao longo dos anos. Esse fenômeno demonstra que a demanda por jogos foi determinante para impulsionar o desenvolvimento da indústria. Entretanto, com a consolidação desse mercado, a imprevisibilidade deixou de ser uma característica viável, uma vez que a receita gerada pelos jogos superou a de outros meios de entretenimento, impactando significativamente os profissionais da área e a economia global.
No Ceará, o cenário de jogos tem se transformado por meio da organização institucional e da implementação de políticas públicas e privadas voltadas para o fomento da indústria local de jogos. A criação do Plano Setorial da Indústria de Jogos do Ceará (ProGamesCE), uma iniciativa liderada pela ASCENDE Jogos em parceria com o SEBRAE-CE, representa um marco nesse processo. O plano estabelece diretrizes estratégicas para fortalecer a indústria de games no estado, contemplando aspectos como capacitação profissional, fomento ao mercado e inserção da indústria cearense no cenário nacional e internacional.
A governança do setor tem sido reforçada por meio da articulação entre entidades de variados eixos. A ASCENDE Jogos desempenha um papel central nesse contexto, atuando na defesa dos interesses dos desenvolvedores locais e promovendo conexões estratégicas entre estúdios, investidores e parceiros. Além disso, a inclusão do setor na Câmara Setorial do Desenvolvimento Econômico da Cultura da ADECE ampliou sua visibilidade dentro das políticas públicas estaduais voltadas à economia criativa.
Outro fator essencial para o crescimento do setor no Ceará é sua participação em eventos nacionais e internacionais, que visam promover a internacionalização dos estúdios locais. Programas de incentivo e missões empresariais, como as realizadas no BIG Festival e na Gamescom Latam, têm facilitado a conexão dos desenvolvedores cearenses com o mercado global, ampliando oportunidades de negócios e visibilidade para os produtos desenvolvidos no estado.
A organização institucional tem sido determinante para a consolidação da indústria de jogos no Ceará. O fortalecimento da governança setorial, a qualificação de profissionais e a criação de um mercado que visa a competição permitiram que o estado transformasse um setor antes marginalizado em um dos mais promissores dentro da economia criativa.
Apesar dos avanços, desafios ainda persistem, como a necessidade de ampliar investimentos e reter talentos locais. No entanto, o planejamento estratégico e a articulação entre diferentes agentes do setor indicam que o Ceará está no caminho certo para se consolidar como uma referência nacional e internacional na indústria de jogos digitais.
Atualiazado em 02/03/2025 por renan753