Sumário
O TV-Jogo Fórmula 1 é um dos mais obscuros e interessantes clones de Pong brasileiros. Sua história possui eventos importantíssimos para se compreender os primórdios dos videogames no Brasil.
Histórico
O TV-Jogo Fórmula 1 foi concebido pela Superkit, uma empresa que trabalhou com componente de eletrônica e que fabricou versões mais simplificadas dos chips da série de jogos tipo Pong. A Superkit, a Eletron e a Saber, todas brasileiras, tinham uma fabricação caseira dessess aparelhos usavam a proteção da Reserva de Mercado para copiar livremente o esquema eletrônico das placas de videogames de fora do país, reconfigurando os jogos de seus chips e customizando algumas outras características.
Os chips em questão eram da General Instruments, ou simplesmente conhecida como GI, que projetou seus últimos chips de jogos em 1977. Ainda com base na mesma ideia (um único chip rodando várias variantes de um mesmo jogo, e disponível para qualquer fabricante), eles processavam jogos mais avançados que os simples Pong. Esses chips não foram muito vendidos nos EUA (embora a Coleco e a Atari tenham usado alguns deles), mas tiveram muito sucesso na Europa e América Latina, tendo um papel importante no lançamento dos primeiros sistemas baseados em cartucho.
O TV-Jogo Fórmula 1 utiliza o chip Roadrace (AY-3-8603), que constrói um espaço na tela imitando uma pista de corrida e a experiência de estar dirigindo um carro de corrida. Os títulos estrangeiros mais conhecidos usando esse chip incluem os consoles “Race”, “Grand Prix” ou “Course de Voitures”. Essas versões de jogos de corrida são bem diferentes do Nintendo Racing 112 e do Telstar Arcade, cujos jogos de corrida eram a cores e com muitas outras funcionalidades.
No Brasil, com a importações desses chips mais baratos, as empresas distribuíam kits de montagem, juntamente com revistas para que os próprios consumidores pudessem construir seu videogame. Na época, as revistas em quadrinhos e publicações em geral divulgavam os cursos por correspondência. O mais famoso deles era o de eletrônica, pelo Instituto Universal Brasileiro. Hélio Ferraz, um dos mais antigos colecionadores de raridades eletrônicas no Brasil, afirma que a revista “Eletrônica” da editora Saber, de Outubro de 1980, que vinha com o projeto para montagem do videogame, era uma inovação que até hoje ninguém mais ousou copiar:
Eu tinha montado para um amigo em 1979 um TV-Jogo da Eletron e achei muito legal, apesar que em 1978 já tinha conhecido o Atari 6 chaves de um outro amigo e achei o máximo! Na época para a gente era ‘inacreditável’. As rodinhas nos controles eram necessárias pois os botões antigos eram muito feios e ruins para jogar (eram finos). Acho que na época eram vendidos só em forma de kit, o que eu montei para um amigo foi aquele amarelo com jogos de Pong tipo Telejogo (também tinha a revista e há muitos anos comprei o aparelho usado). Eu comprava a revista Saber Eletrônica e o meu irmão colecionava a revista Nova Eletrônica. Ainda tenho coisas que montei da Nova Eletrônica na época como luz estroboscópica e rítmica (também em kit). Eu comecei novo em eletrônica por causa do meu irmão, eu tinha 13 anos em 1977.
De fato os kits para montagem dos consoles tipo Pong eram encontrados em lojas de eletrônica e precisavam de equipamentos de solda e cases específicas para serem montados. No caso do TV-Jogo Fórmula 1, é importante destacar o design dos controladores, onde os botões de giro do potenciômetro são em forma de volante. Essas peças eram muito difíceis de achar e eram trocadas por outras mais disponíveis nas lojas.
O console também era vendido nas lojas montado, caso o consumidor não tivesse interesse de montá-lo em casa. Acreditava-se que parte da diversão era comprar a revista, montar e jogar, algo que hoje em dia seria impensável: comprar as peças e montar seu próprio videogame, similar a um computador pessoal gamer.
O TV-Jogo Fórmula 1 era frágil e suas peças eram de baixa qualidade. Os kits vendidos pela Superkit e só foi encontrada uma peça em bom estado, justamente com o colecionador Hélio Ferraz, que gentilmente cedeu as informacões para este artigo, assim como registros de fotos e vídeos.
O Console
Originalmente o TV-Jogo Fórmula 1 funciona com 6 pilhas médias, e vários profissionais adaptavam um plug para se conectar um adaptador de energia. Ao ser ligado pela entrada RF da TV e sintonizado o canal 3, a tela do jogo em preto e branco já se mostrava bem visível. O botão liga/desliga é um interruptor simples, bem como o seletor de jogo amador/profissional. Os botões da parte de baixo configuram o jogo para 1 ou dois jogadores, além de resetar uma partida.
A caixa e os controles são feitos em Vacuum Forming de plástico. Esse material com o tempo fica quebradiço e com coloração amarelada. Originalmente ele tinha controles com fio com pequenos ‘volantes’ para controlar os carros e poderiam ser acoplados no console para guardar melhor. Os botões, também chamados de knobs em inglês, vinham apenas nos kits da Superkit e eram frequentemente trocados por knobs mais simples e fáceis de achar nas lojas de eletrônica.
Jogos
Seus jogos consistem em uma estrada vertical que desce a uma velocidade crescente (já que o motorista deve acelerar), e com alguns carros adversários descendo. Obviamente, o jogador tem que ficar o maior tempo possível sem tocar nos carros adversários. Os efeitos sonoros são muito bem feitos para esse chip. O jogo pode ser jogado por um ou dois jogadores.
Esse é diferente, a tela mostra 2 pistas e se trata de uma corrida de carros, tem contador de pontos.
Galeria
Mercado
A grande estratégia desse console foi construir uma experiência para o público mais adulto. Primeiro pelo tema da Fórmula 1, algo muito assistido aos domingos por homens e acompanhado por seus filhos. O segundo foi a possibilidade de desenvolver uma capacitação em eletrônica com foco em um produto útil. Devemos lembrar que nessa época a tecnologia de informação no Brasil explodia, e qualquer iniciativa de conexão com esse universo era muito chamativa para consumidores.
O Console foi vendido por 4.415 cruzeiros e sua propaganda comparava o jogo com os fliperamas, notadamente os arcades Pole Position da Atari. NA publicidade é possível ver os botões originais dos controles em formato de volante, bem como todas as funcionalidades do console.
Curiosidades
- Originalmente o console era vendido em forma de kit para montar, mas muitas lojas de eletrônica o vendiam pronto para jogadores menos fãs de eletrônica.
- Esse foi o primeiro console de videogames do autor desse post – o curador do Museu Bojogá, Daniel Gularte.
Ficha Técnica
Geração: Primeira
Fabricante: Superkit
Ano de lançamento: 1979
CPU: AY-3-8603
Controles: Dois Potenciômetro de Fio (paddle) destacáveis
Mídia: não possui
Jogo famoso: Corrida
Cores: preto e branco
Som: Alto-falante embutido
Portas I/O: Saída de vídeo TV RF
Alimentação: Baterias: 6 baterias tamanho C
Atualiazado em 28/05/2022 por Daniel Gularte