Sumário
Coube a charmosa empresa Philco a grande honra de produzir o primeiro console fabricado no Brasil no fim dos anos 70: o Telejogo. Na época o brasileiro não sabia o que significava a palavra videogame, e timidamente experimentava os fliperamas de alguns bares e casas especializadas. Os primeiros videogames no Brasil eram importados, e muito raramente alguém trazia uma novidade como o Atari 2600, recém-chegado no final de 1977 nos Estado Unidos.
Histórico
Os anos 1970 tem como principais acontecimentos no Brasil a manutenção do regime militar, uma incontrolável agregado entre tributos de inflação crescentes devido a planos econômicos falhos e a política de reserva de mercado, que impediam que o Brasil pudesse fazer parte de maneira ativa do nascimento da indústria dos jogos eletrônicos dificultando as importações ao máximo. Quem tinha familiares viajando para os Estados Unidos ou que era amigo de comissários de bordo de voos para a terra do Tio Sam poderiam ter uma chance de conseguir um videogame. Entre 1972 e 1977 essa era a única maneira do brasileiro experimentar uma novidade que já fazia parte dos lares de países da América do Norte e Europa.
A Philadelphia Storage Battery Company, mais conhecida como Philco, foi uma empresa norte-americana que nasceu oficialmente em 1892 com o nome de Spencer Company, tendo Thomas Spencer como um de seus fundadores. Já no mesmo ano ela muda de nome pela primeira vez, se tornando a Helios Electric Company. A marca começa fabricando lâmpadas de arco de carbono, e quase faliu já no começo da sua existência pelos produtos obsoletos. A Helios entrou o ano de 1906 no setor de baterias pra carros, caminhões e outros veículos e troca de nome de novo, em 25 de julho, agora como Philco. Essa é como se fosse a segunda data de fundação de empresa, pois tudo muda a partir de então – três anos depois, a participação da Philco no mercado de peças elétricas em automóveis aumenta. A partir dos anos 50 a Philco é conhecida no mundo por trazer ideias criativas para os segmentos de televisões e eletrônicos que despontavam como novidade.
Sua filial no Brasil foi aberta em 1934 para produzir rádios e mais tarde todo tipo de aparelho, e mais recentemente televisores até ar-condicionados. Em 1961 a montadora de carros norte americana Ford comprou a Philco internacional para fornecer baterias e toda parte elétrica dos seus automóveis, então todos os produtos da Philco como TVs e Rádios portáteis saiam nessa época com a marca Philco-Ford, inclusive no Brasil. Isso aconteceu até 1981 quando a Philco foi vendida para Philips, que detém a marca por muitos anos. A Philco hoje pertence ao grupo Electrolux.
Os engenheiros da Philco tinham em mãos os projetos de um clone do Atari Pong e estavam criando o seu próprio console caseiro com modificações de componentes disponíveis no país. Após a fusão, e com uma forte inclinação para a fabricação de rádio toca-fitas para os veículos da Ford, o projeto foi apresentado aos diretores da Ford do Brasil. Com o Telejogo, o Brasil iniciava em 2 de agosto de 1977 uma longa e expressiva jornada digital. E quem acha que o Telejogo não despertou curiosidade engana-se: Luís Gabriel, representante de vendas da Philco-Ford na época, lembra que o as lojas Mappin era o principal distribuidor do console:
Os caminhões do Mappin faziam fila na nossa fábrica para levar os jogos para as lojas. Montaram uma vitrine e juntaram muita gente para olhar a novidade.
Desde o Televisor Predicta, passando pelo rádio Philco 89 “capelinha” até o Telejogo a Philco tem sido uma companheiro do brasileiro. Já em 1948 ela abre a primeira fábrica no Rio de Janeiro, produzindo alguns dos primeiros rádios nacionais. A fábrica depois foi pra São Paulo e depois pra pra região do Tatuapé. A Philco ainda ajudou na formação da TV brasileira em 1950 com a produção de aparelhos pioneiros, e mais tarde abriu a primeira fábrica de semicondutores do Brasil, decretando “o fim das válvulas” no país.
Seguindo sua reputação de inovadora, a empresa conseguiu mais um feito importante: iniciar a febre dos videogames no Brasil. As boas vendas do Telejogo e a correria de compradores paulistanos levou dois anos depois a empresa investir em seu segundo console, o Telejogo II, que vinha com mais jogos.
O console
O Telejogo é um console de mesa da primeira geração e faz parte da família de jogos dedicados clones de Pong, a partir do circuito integrado MM57100N da National Semiconductor projetados para o mercado de videogames de consumo. O MM57100N foi projetado para rodar três jogos no estilo Pong em cores, com velocidade e ângulo da bola variável, placar digital, som, dentre outros. Era um chip completo, muito embora a National havia pensado em replicar o sistema de placa mãe e placas filhas do Magnavox Odyssey, mas o sucesso de Pong ajudou a empresa a desenvolver seu caminho mais correto. O chip foi lançado em julho de 1976 e foi usado em alguns consoles até o final de 1977.
No mercado existiam diversos fabricantes de chips similares e foi a partir daí que centenas de empresas no mundo começaram a desenvolver seus aparelhos clones de Pong, inclusive no Brasil. O Telejogo é um produto 100% brasileiro, conforme revela Cristóvão Remédios, engenheiro da Philco que trabalhou no lançamento do aparelho:
Ele surgiu depois que um fornecedor de rádios apareceu com circuito integrado que era a base para um game…Mas apenas a base do circuito era igual. Todo o resto fizemos aqui. Mudamos a configuração de NTSC para Pal-M, desenvolvemos a placa, o sistema de controle e o design.
O produto original poderia ter sido o Adversary de 1976 feito pela própria National Semicondutor. Com o projeto transformado para a realidade brasileira, foi feito o design externo do console. Segundo a Revista FlashBack, o aparelho possui um formato de uma bela caixa e desenho marcante. Realmente quem olha hoje para um videogame com placas metalizadas e madeira não acreditaria que ele possa reproduzir algum jogo na TV. Para operá-lo, é preciso fazer a seleção do jogo propriamente dito e do modo de jogo, tudo através de botões e chaveamentos (isso quer dizer, ou está ligado ou está desligado, ou muda para modos pré-configurados pela placa).
Os controladores de jogo são os botões giratórios das extremidades do aparelho, nada mais do que potenciômetros analógicos, semelhantes aos seletores de banda de aparelhos de rádio antigos, os dials. Com potenciômetros de fio, era possível estabelecer um ajuste de posição e deslocamento de objetos, isto é, quando o valor do potenciômetro é menor ele vai para baixo e quando é maior vai para cima. Dessa forma os jogadores controlavam as raquetes para jogar.
Jogos
O aparelho possui três jogos, padronizados pelo chip MM57100N, que na verdade são variações de Pong. A proposta de todos ele é simples: rebater uma bola (ponto quadrado, em virtude da resolução baixíssima):
- Tênis: duas raquetes (retângulos nas extremidades) disputavam uma partida de 15 pontos, rebatendo uma bolinha (de formato quadrado). O jogador que rebatesse a bolinha de forma que o oponente não pudesse rebater ganhava um ponto. Dependendo da posição em que a bolinha bate na raquete e direção muda. A cada sequência de rebatidas a velocidade da bolinha aumenta.
- Paredão: mesmas regras de tênis, entretanto apenas um jogador brincava com um anteparo na extremidade direita.
- Futebol: segue o mesmo padrão de regras do jogo tênis, entretanto são colocados vários retângulos rebatedores na tela, como se fossem jogadores de futebol, controlados como um jogo de totó. Não existe goleiro e os anteparos das extremidades possuem pequenos buracos no meio, imitando os gols.
Modelo 3D
Galeria
Mercado
O preço de lançamento do console era de Cr$ 1.590,00, o equivalente a R$ 1.650, mas conforme os meses foram se passando, as lojas foram adquirindo ainda mais peças e aumentando o estoque, pois a procura pelo console aumentou tanto que gerou uma demanda reprimida. No caso da famosa loja Mappin, o aparelho chegava a custar Cr$ 1.690,00 e poderia ser pago no crediário (antiga forma de parcelamento por boletos) em até vinte e quatro vezes.
O Telejogo inspirou uma geração de consumidores e fabricantes. Como seus irmãos americanos, dezenas de clones de Pong surgiram no mercado brasileiro. Logo, milhares de pessoas tinham em suas casas aparelhos inspirados em Pong. Um deles por exemplo era o TV-Jogo da Super Kit, muito popular em residências, com alguns modelos de jogos que simulavam corridas de Fórmula 1 até jogos de tiro ao alvo.
O Telejogo é sem dúvida peça obrigatória para colecionadores brasileiros. E não é tão difícil achar um em boas condições – foram produzidos milhares deles entre 1978 e 1979. Em feiras de antiguidades e sites especializados de leilões, pode-se adquirir uma joia rara dos games desconhecida por muitos no mundo todo. Claro que para os mais exigentes, achar um dispositivo deste porte em excelente estado, completo, com manuais, cabos originais e principalmente o papelão de revestimento (luva de proteção com a arte do jogo) é bem mais difícil.
Curiosidades
- Existem dois modelos para o console: o primeiro reproduzia gráficos em preto e branco e provavelmente são versões de teste, e o segundo com cores pré-definidas.
- Por causa do sistema de controle por potenciômetro, nos jogos deste estilo quando uma raquete vai para o topo da tela, o mesmo chega ao seu valor máximo, menor ou maior, e retorna para sua posição original, fazendo com que de repente a raquete saísse de cima da tela e aparecesse embaixo.
- Se o jogador reiniciar uma partida com a raquete fora da tela, esta voltará com tamanho menor.
- O console possui entradas nas duas laterias para controles de jogo com fio que podem ser feitos até em casa, comprando os componentes certos.
Ficha Técnica
Nome: Telejogo
Geração: Primeira
Fabricante: Philco / Ford
Ano de lançamento: 2 de agosto 1977 (BRA)
CPU: National Semicondutor MM57100N – TTL
Controles: Dial (semelhante a um seletor de rádio) ou Potenciômetro de Fio (paddle)
Mídia: não possui
Jogo famoso: Paredão
Referências
Telejogo- quando a bola era quadrada. Revista Flashback. São Paulo: agosto de 2004, pág. 64
Wikipedia
Videogames History
Tecmundo
Atualiazado em 02/07/2022 por Daniel Gularte
Boa noite Prof Daniel, muito prazer, sou Felipe Fernando, primeiramente adorei a matéria, adoro coisas antigas e raridades, particularmente games, mas não sou igual uns malucos que pagam fortunas em coisas raras, não estou dizendo que não vale o valor pedido, mas que não tenho coragem de gastar muito dinheiro em relíquias, sendo assim, achei uma pessoa vendendo um Telejogo sem funcionamento por uma pechincha e não pensei duas vezes, adquiri-o; por fora estava muito bem conservado, porém quando o abri, estava com a placa toda corroída e desgastada, com capacitores estourados e componentes faltando… Então queria saber se você pode me ajudar a arrumar o mesmo, talvez tenha que trocar todos componentes da placa, sou amador em eletrônica mas sei fazer as “minhas soldas”, você pode me ajudar a arrumar todos os componentes da placa? Se possível me responda pelo e-mail que mando fotos: ff.78@hotmail.com.
Desde já muito obrigado.
Olá Felipe tudo bem? É uma tarefa muito difícil a sua. Sugiro levar o aparelho a um especialista em eletrônica na sua cidade e fazer os testes devidos. Sempre sugerimos um profissional quando ocorrem problemas assim. De qualquer forma nos conte se tudo deu certo e use também nosso email de contato para qualquer ajuda. Até mais!
Até hj eu tenho um guardado em casa.
eu tenho um desses ai, quanto sera que ele vale ????
Tive um, pena que roubaram.
Excelente matéria. Simples mas bem fundamentada.