Sumário
O RCA Studio II foi o segundo console de jogo com cartuchos programáveis do mundo, seguindo o Fairchild Channel F, lançado alguns meses antes (O Magnavox Odyssey tinha cartuchos/cartões, mas não eram programáveis – os cartões simplesmente agiam como jumpers para selecionar jogos já embutidos na eletrônica analógica do sistema). Ao olhar para o Studio II, lembra-se do design dos aparelhos tipo Pong. Mas ele é muito mais do que sua aparência. Conheça agora o videogame que a maioria dos pesquisadores e colecionadores atestam como o pior videogame do mundo.
Introdução
O ano era 1977 e o mundo estava acompanhando o primeiro crash dos videogames. Não aquele emblemático de 1983, mas um pequeno abalo. Tudo por causa do excesso de consoles Pong. Os americanos, visitando as lojas de brinquedos e vendo a quantidade de caixas de consoles disponíveis para escolher, acabam sendo fisgados pelo visual.
Eis que um novo produto aparece com novas informações. É de uma empresa conhecida, marca líder em telecomunicações na América, a RCA. Ao ler detalhes da embalagem, a afirmação do produto ter 20.000 bits de memória. Não se tem ideia do que isso significa, pois o consumidor não tem o conhecimento de computação, mas parece bastante coisa. O produto vendido não parece muito diferente do sistema Pong, exceto, em vez de mostradores ou níveis para controladores, tem espaços de botão tipo chave e numéricos. A imagem da tela da TV na caixa do aparelho está em preto e branco, e não muito diferente da maioria dos jogos de Pong. O que o distingue o produto de todos os outros é a estranha fenda no centro da parte traseira da unidade. Coisas chamadas “cartuchos” se encaixam nesta ranhura para permitir que o console processe um novo jogo, bem parecido com o Magnavox Odyssey.
Lembre-se que estamos em 1977. Podemos considerar que a diferença entre os dois aparelhos é que o Odyssey é um pouco mais parecido como as unidades Pong. Todos os jogos estão realmente dentro da própria unidade. É só que, ao invés de ter um interruptor ou botão, o Odyssey usa cartões separados. Este novo sistema é “programável” o que significa que os cartuchos contêm código de computador para fazer os jogos do sistema. Isso significa que um número praticamente infinito de jogos poderia ser feito para ele.
A maioria dos jogos disponíveis para ele não são mostrados, mas há um jogo chamado Space War. Star Wars é um grande sucesso nos cinemas da época, por isso, este jogo pode ser divertido. Existem também algumas imagens de jogos de esportes e jogos de tabuleiro. Tudo isso a um preço razoável.
Esse é o Studio II, da RCA. E veja o apelo. Não é o Studio I. É o II, isto é, uma segunda geração, mais nova. Pelo menos é o que se parecia vender naquela época. Dessa forma surge um videogame estranho e que não durou mais do que 9 meses de vida.
Histórico
Ralph Baer, criador do sistema Odyssey, tinha inicialmente abordado a empresa RCA sobre a sua invenção, o videogame. Naquele tempo a RCA não acreditou no Odyssey, e Ralph Baer acabaria por conseguir um acordo com a concorrente da RCA, a Magnavox, para fabricar e distribuir o Odyssey, que se tornou o primeiro videogame do mundo. A RCA, notando o sucesso que a Magnavox estava tendo com a linha de consoles Odyssey, e mais adiante os sistemas clones de Pong em meados dos anos 1970, decidiram criar o seu próprio console de jogos de vídeo doméstico para competir com a Atari, Magnavox, e muitos outros fabricantes que despontavam com seus joguinhos de paredão.
Ninguém credita a criação do console, ou se ele foi baseado em alguma outra plataforma. Segundo entrevistas com gerentes da linha de produção do console, o Studio II foi feito em uma linha de montagem intensiva de 125 pessoas, a maioria mulheres. Chips foram inseridos à mão, assim como os componentes discretos. Tudo era soldado em série, exceto alguns fios. A limpeza da placa usava um desengordurante de ultrassom usando gás Freon TF. As taxas de produção foram de 1000 unidades por dia em um único turno. Três ou quatro estações de ajuste ficavam em linha para testes dos componentes de RF. Tivemos um pequeno cartucho com um programa de teste para o console que colocava padrões diferentes na tela, testava chaves, bip, slot de expansão. Níveis de saída RF foram verificados em uma estação de teste final usando um medidor de energia.
O produto foi construído usando um microprocessador RCA COSMAC 1802. A unidade rodava a 3,58 MHz. Ele tinha um chip de memória RAM (2K), um chip de memória ROM (16k ou 8k), um circuito de sinal sonoro, um regulador de tensão 7805. A ROM / RAM continha travas internas.
O RCA Studio II foi lançado em janeiro de 1977 e vendido por $ 149,95. A RCA esperava que seria o primeiro console de videogame caseiro com cartuchos de ROM intercambiáveis, no entanto, a Fairchild já havia lançado no mercado, alguns meses atrás, o Fairchild Channel F. A partir deste fato iniciou-se uma série de acontecimentos que complicaram a aceitação do produto. O RCA Studio II já era obsoleto no momento em que chegou ao mercado. Não poderia mostrar cores, e tinha desenhado os controles fixados ao console, ao contrário de muitos consoles do momento, que tinham separado seus controles.
O RCA Studio II foi rapidamente ultrapassado 9 meses depois seu lançamento, época que o Atari VCS foi lançado, com gráficos em cores de alta resolução, som personalizado emitidos através da televisão, e que viria a ser uma das maiores bibliotecas do jogo de qualquer console até agora. Foram produzidos 10 jogos para o Studio II e deixou o mercado de videogames em 1979.
Todo o equipamento de testes foi desmantelado e vendido. Haviam rumores sobre o S3, que estava sob desenvolvimento em unidades de produção da RCA no norte dos EUA. Provavelmente com a produção em diversos locais, a tecnologia do Studio II e do possível S3 foram repassadas a terceiros, para a construção dos clones. Acredita-se que a sede de Swannanoa na Carolina do Norte era a única unidade de produção para Studio2 onde possivelmente essas informações foram vazadas. A Divisão de Produtos Especiais era sediada em Deptford, NJ.
O Studio II teve grandes oportunidades perdidas uma após a outra. Desde que a unidade se parecia com uma unidade Pong, teria feito uma escolha mais lógica como o primeiro sistema programável em mudar o seu visual. Isto reflete como a tecnologia estava avançando rápido ou quão barato a RCA foi na produção de seus produtos. A vantagem real que a Atari em relação ao Studio II tinha não era o hardware superior, mas é licenças dos jogos. As vendas do Atari VCS eram pobres até a Atari lançar o popular jogo de arcade Space Invaders.
Mesmo que a RCA tentasse colocar um jogo famoso de arcade em seu sistema é bem provével que não teria sucesso. Pac-Man no Studio II teria provavelmente um visual muito pior do que a versão do Atari 2600. A RCA teria consição de explorar o caminho para o Studio III, se tivesse sido bem-sucedida ou não, mas a RCA parecia na verdade muito tímida ou até desmotivada em sua perseguição do mercado de jogos para isso ser uma possibilidade.
Em linhas gerais trata-se de um sistema bastante raro uma vez que nunca vendeu bem. As probabilidades são a maioria das pessoas terem jogado o Sistema fora para adquirir um Atari.
Para colecionadores existem poucas informações sobre o sistema para torná-lo importante, principalmente por ser um dos primeiros sistemas programáveis. Resumindo: desenho do aparelho inadequado, sem cores, poucos jogos e concorrentes que estavam batendo uma nova geração. A RCA, que poderia ter feito um grande negócio com Ralph Baer, havia dado mais um tiro no pé, desta vez com o Studio II.
O Console
O RCA estúdio II é mais do que um Pong, pois é também um aparelho programável. Um total de 10 cartuchos foram lançados antes da RCA lançar o sistema em 1979. O Studio II também veio com 5 jogos embutidos. Ao contrário do sistema da Fairchild, o RCA Studio II processava somente imagens em preto e branco e o som era através de um único sinal sonoro no estilo Pong alojado no próprio sistema.
Os controladores são bastante básicos: apenas dois teclados numéricos embutidos no sistema, com o rótulo “A” para o jogador à esquerda e “B” para o jogador à direita. Os teclados numéricos são compostos de dez teclas numeradas de 0 a 9. As setas também são indicadas ao lado das teclas para indicar que “4” é para esquerda, “6” para a direita, “2” para cima “, 3” para cima-direito, etc. “0” é, portanto, muitas vezes usado como o botão de fogo dependendo de cada jogo.
A principal influência de design da RCA para o Studio II foram os muitos clones de Pong já disponíveis durante um bom tempo. Existem nove botões numerados em ambos os lados do console usados para os controlos. Há também um botão “clear” para reiniciar o jogo no meio do aparelho, a luz de alimentação vermelha acima do botão “clear”, e um slot de cartucho na parte central superior do console. Não há interruptor liga/desliga, e o console apenas liga automaticamente quando ele é ligado na energia. Há um cabo RF embutido na parte traseira do console que se conecta a uma caixa de comutação única que o adaptador de 9v AC conecta-se (Atari usaria um sistema semelhante mais tarde, com o lançamento do Atari 5200).
A fixações dos cartuchos do Studio II tem uma função muito similar aos do Atari 2600. Há um tipo de pente de metal que liga todos os pinos em conjunto, presumivelmente como um dispositivo anti-estático. Este pente é empurrado para cima e para fora do caminho pelas hastes na caixa do console. Se você olhar para cima os buracos poderão ser vistos na borda da barra de elevação.
Todo o som vem de um alto-falante no centro da unidade. Sobre a memória de 20.000 bits: existem 8 bits para um byte e K significa 1000, assim, 20.000 / 8 = 2.500 bytes = 2,5 KB. O Atari tem cerca de 2 KB. Essa seria mais uma estratégia para mascarar um console que não era tão poderoso assim. A alimentação do console era de 9V e os gráficos poderiam renderizar 128×64 ou 64×64 pontos na tela.
Clones
Europa: Hanimex MPT-02
Esta unidade foi fabricada pela mesma empresa asiática que fez o clone Arcadia 2001 MPT-03, mas foi distribuído por uma empresa diferente, a Hanimex ao invés da Prestige. Isso explica por que o MPT-03 tem cartuchos parecidos com o Studio II e mesmo slot com duas hastes que inserem no cartucho. O MPT-02 possui controladores destacáveis com cabos de cerca de 2m de comprimento.
Austrália e Reino Unido: Sheen M1200
Esta unidade difere da RCA Studio II em três grandes aspectos.
1) A unidade é de cor preta.
2) Tem um cabo de alimentação separado, e não é conectado através da caixa de ligação da TV
3) Jogos em cor
É isso mesmo, cor. A Sheen M1200 teve uma saída de cores. A as[ida RF do M1200 está em uma placa-filha, que poderia ser do Studio II (ou pelo menos o controlador de vídeo) que é em cor, mas o cartão RF filho só gera um sinal mono ou provavelmente é um sistema PAL e, portanto, o Studio II tinha uma saída em preto e branco limpo, em tons de cinza, semelhante ao colocar um Atari 2600 com a chave em preto e branco, principalmente porque as TVs americanas são NTSC (um sistema PAL nessas TVs ficam em preto e branco). Pode-se concluir que os jogos eram programados em cores, mas o console apresentava a imagem em P&B
A única explicação da RCA colocar seu console em preto e branco seria economizar em custos ou eles tinham a unidade concebida por uma empresa externa que usa o sistema PAL. A unidade funciona muito bem em PAL, e mostra P&B na maioria dos outros padrões de TV no mundo. Neste caso, a RCA deve ter apenas visado menores custos com o propósito de entrar no mercado rapidamente, e por isso não poderia corrigir o problema de cor. Na placa do console encontram-se diversos slots de chips faltantes, o que reforça ainda mais essa teoria.
Esses sistemas clones com cor apareceram na Europa sendo comercializados como sistemas baratos para as pessoas que não podiam pagar por consoles “modernos” como o Colecovision ou Vectrex. A lista inclui o Soundic MPT-02 Victory, Hanimex MPT-02, Mustang 9016 Telespiel Computador, Conic M-1200 eo Sheen 1200 Micro Computer. Alguns têm modificações a partir do original RCA Studio II como controladores destacáveis ou até mesmo gráficos de cor. Havia também alguns novos cartuchos produzidos por esses sistemas, como o Jogo Concentration para o MPT-02. No Japão existiu o console chamado VISICOM Video Computer System que também produziu cor para os jogos do Studio II.
É interessante notar que o MPT-02 possui software compatível com o Studio II, já o MPT-03 é compatível com o Emerson Arcadia 2001 e o MPT-04/05 possuem software compatível com VC-4000, isto é, fabricantes totalmente diferentes.
Jogos
Os cartuchos medem 8 x 11,5 x 2 cm, e são de uma cor amarela. As caixas possuem uma arte conceitual, que nada tem a ver com os gráficos em blocos dos jogos. Os manuais de instrução são leitura obrigatória uma vez que para iniciar o jogo é necessário pressionar a tecla para a opção desejada. Caso contrário, a tela permanece em branco.
Os jogos foram divididos em quatro categorias, semelhantes a concorrentes como a Mattel tinha para os seus jogos: TV Arcade, TV Casino, TV Mística e TV Escola. A educativa TV Escola foi uma inovação interessante para jogos de videogame que, no momento consistia em bater uma bola para frente e para trás.
A única outra coisa sobre os cartuchos dignos de menção é que eles só têm conectores de um lado da placa de circuito. Isso ocorre provavelmente porque a unidade não precisava ou não poderia lidar com mais informações de entrada.
Lista de cartuchos
Fabricante | REF# | Título |
RCA | 18V403 | 77 Baseball (TV Arcade IV) |
RCA | 18V700 | Biorhythm (TV Mystic Series) |
RCA | 18V600 | 77 Blackjack (TV Casino I) |
RCA | 5008331 | Demonstration Cart |
RCA | 18V401 | 76 Fun with Numbers (TV Arcade II) |
RCA | 18V405 | Gunfighter/Moonship Battle (TV Arcade) |
RCA | 18V501 | Math Fun (TV School House II) |
RCA | 18V400 | 76 Space War (TV Arcade I) |
RCA | 18V404 | Speedway/Tag (TV Arcade ?) |
RCA | 18V402 | 77 Tennis/Squash (TV Arcade III) |
RCA | n/a | Tester 1 (Diagnostic Cart) |
RCA | 18V500 | 76 TV School House I |
RCA | Embutido | Bowling |
RCA | Embutido | Patterns |
RCA | Embutido | Doodle |
RCA | Embutido | Freeway |
RCA | Embutido | Adding |
Mercado
O RCA Studio II foi lançado em janeiro de 1977 pela RCA, inicialmente varejo em $ 149.95 USD, com cartuchos que vão para cerca de US $ 14.95- $ 19,95. O console foi muito mal recebido, por diversas razões já comentadas. Uma das maiores reclamações dos usuários era seu esquema de controle (botões presos ao console físico para os jogadores, não existindo maneiras de remover esses controladores), exigindo que os jogadores usem o console para controlar a ação na tela.
Uma das principais razões para a sua má recepção foram também suas especificações de hardware. O RCA Studio II já era obsoleto mesmo para os padrões em 1977, com o recém-lançado Fairchild Channel F superando-o em quase todos os aspectos. O lançamento do Atari 2600 no mesmo ano selou seu destino, e a produção do RCA Studio II foi interrompida em 1979, dois anos após o seu lançamento.
Na linha de produção via-se sempre unidades empilhadas no depósito que nunca vendiam rapidamente. O produto mais competitivo da Magnavox era com cor, de alta resolução, material de som-via-TV econômicos com joysticks, fazendo do Studio II uma caixa monocromática. Por aclamação do público, o videogame foi amplamente rejeitado e esquecido, um produto inútil que nasceu ultrapassado.
Após 6 a 8 meses, foram disponibilizadas unidades aos empregados com um desconto. A produção completa das unidades era de 1.000 por dia e estimando 9 meses de produção foram produzidas cerca de 50.000 unidades no total. Os cartuchos começaram sua produção mais tarde, a uma taxa de 3.000 por dia durante 9 meses ou cerca de 150.000 unidades. Eles são todos idênticos, exceto por ter 1 ou 2 ROMs.
Apesar de sua má recepção na América do Norte, a série de clones do RCA Studio II lançados em mercados europeus como uma alternativa mais barata para jogadores teve uma boa aceitação. Mesmo assim, o grande público e a imprensa especializada, inclusive pesquisadores atuais afirmam que o Studio II foi o console de jogos mais mal planejado da história dos videogames, e por todas as circunstâncias, um dos piores de todas as gerações.
Galeria
Curiosidades
- RCA foi fundada em 1919, principalmente para ajudar com a Primeira Guerra Mundial
- RCA significa Radio Corporation of America.
- Um rumor conta que o console foi chamado de “Studio II”, por causa de um famoso estúdio de gravação, famosa da RCA, o Studio B (segunda letra do alfabeto). Já outras afirmam que não existe uma versão primeira do console, e o II veio de uma alusão à segunda geração dos videogames.
- Alguns fãs afirmam que ligando unidades americanas do Studio II em TVs PAL é possível jogar com cores na tela.
- O programador Andrew Modla afirmou que é o criador de mais da metade dos jogos para o console. O sistema em si foi codificado por Joseph Weisbacker, que é falecido.
Ficha Técnica
Geração: segunda
Fabricante: RCA
Lançamento: janeiro de 1977
CPU: RCA 1802 microprocessador (1,78 MHz)
Memória: RAM: 512 bytes, ROM: 2 KB (incluindo os cinco jogos internos)
Gráficos: CDP1861 chipset de exibição de vídeo, display monocromático 64×32
Cores: preto e branco
Áudio: buzzer de canal único
Jogos: cartucho
Controles: teclado embutido
Atualiazado em 02/07/2022 por Daniel Gularte